sexta-feira, 25 de abril de 2014

NATÁLIA

    

                                                        



    Com o pensamento envolto pelas névoas do passado distante, relembrei-me como por encanto, de circunstâncias vivenciadas no apogeu dos sonhos da minha adolescência.
    Naquela época, as ilusões e o romantismo afloravam o mais íntimo do meu ser, assim como ocorre naturalmente com os jovens nas primícias do amor.
    Os primeiros madrigais e nuanças das aventuras juvenis daquele tempo traziam o florir da inocência; diferenciava substancialmente das malícias muitas vezes deploráveis dos dias atuais.
    Nas minhas andanças costumeiras pela cidade, na época de então, em dia comum, mas livre das atribulações de praxe, que caracterizam quase toda a minha gente, o meu povo, encontrei Natália!
   O entardecer para mim se transformou; tudo ganhou mais sentido, mais colorido, mais razão para que tivesse motivo de contemplar ativamente tudo ao meu redor, e pensar...
   Foi repentino e encantador o meu encontro com Natália. A luminosidade de seus lindos olhos parecia adivinhar o meu pensamento e a minha admiração por sua imagem singela e calma que simbolizava, sobretudo, toda a beleza daquela tarde inesquecível, que fez meu coração pulsar com mais ímpeto, fremir enfim de contentamento por sua meiguice a me ensinar como dar valor ao verdadeiro sentido de um passeio, como laquear-me à natureza e viver e até sonhar!
   Natália parecia mesmo uma crisálida vinda do céu com a missão de fazer-me admirar sobejamente, com outro ângulo de visão, aquela tarde linda de sol e de céu claro, alabastrino...
   Quase não falamos de nós; parecia que estávamos presos àquele mundo diferente em que só víamos esplendor e maravilhas!
   As nossas conversas fluíam com pausas alongadas num magneto de ternura e, vez por outra, evocávamos a necessidade de tratarmos do nosso corpo de tal forma que pudéssemos ser dignos da pureza de nossas almas. Afinal, de que vale o progresso material se perdemos a alma?
   E foi assim, com essa pureza de sentimentos, mas com total encantamento que, repentinamente, Natália surpreendeu-me com a timidez de um beijo instantâneo, mas um tanto sedutor. E após um rápido e melancólico adeus, desapareceu entre penumbras tristes, deixando-me desolado como se eu estivesse solitário num continente perdido.
   Este episódio romanesco deixou-me perplexo por alguns momentos, como se na verdade, eu estivesse em estado hipnótico, e a seguir, as lembranças permearam de forma mais real as minhas vísceras e, aos poucos, apenas um sentimento nostálgico de inefável candura aventou-se na tarde vazia.
   Aquele adeus fixou-se em minha mente como um eco emocional. Seria Natália uma visão?
   Tenho apenas a certeza de que não se tratava de uma imagem vã de um sonho. E ficou gravada em minha memória, toda a sua meiguice e candura, e seu lindo nome: Natália!



Autoria:  Antenor Rosalino

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sábado, 12 de abril de 2014

LÁGRIMAS REMANESCENTES


                   
                                                 


Nos recônditos de minha alma
Borbulham em camarinhas:
Tristes lágrimas remanescentes
Derramadas sob um sol distante
E num solo salpicado de estrelas.

Na diáfana luz do plenilúnio,
Somente os meus passos firmes são ouvidos
Nas madrugadas frias que me alucinam
Deixando-me assim: taciturno e divagante
Entre o incógnito presente e esta saudade sem fim.

São as lembranças mais queridas
Perpetuando uma clausura insólita
Que se incrusta na memória...
Entorpecendo meu coração que espera
Esperanças renovadas no raiar de nova aurora.

                                   Minha mente voejante conflita com a morbidez latente
                                   Que me faz um ser estranho por desejar ser liberto,
                                   Mas sem esquecer as névoas pretéritas, difusas...
E, em perfeita analogia, sigo meu caminhar soturno,
Sempre cercado de gente, mas sempre sozinho no mundo.


Autoria:  Antenor Rosalino

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